domingo, 22 de junho de 2008

Sombrinhas da China invadem carnaval do Recife

Lembrança típica de Pernambuco não resistiu aos preços baixos dos chineses. Fitinhas do senhor do Bonfim são produzidas a 2 mil quilômetros de Salvador (BA).
Laura Naime Do G1, em São Paulo
O turista que foi passar o carnaval em Pernambuco corre o risco de levar para casa uma lembrança produzida bem longe dali, na China. Mesmo sem muitos dançarinos de frevo por lá, é do país asiático que vem a maior parte das sombrinhas usadas na dança típica pernambucana.
Não há levantamento sobre quantas sombrinhas de frevo chegaram do leste para o carnaval deste ano. Só em 2001, o Brasil importou US$ 5,1 milhões em sombrinhas e guarda-chuvas da China. Com importação maciça, o produto chinês já é dominante em Pernambuco, onde é vendido em lojas e camelôs. E vem prejudicando a indústria local.
Única empresa a fabricar sombrinhas de frevo em Recife, a Leite Bastos deve produzir apenas 3,5 mil peças para o carnaval deste ano. Há 12 anos, a produção era mais do dobro. "Não temos como competir com o preço dos chineses", diz Almiro Cabral, que trabalha na empresa há mais de 50 anos. A fábrica, que já teve meia centena de trabalhadores, hoje emprega apenas quatro. A produção só não será menor este ano porque a Prefeitura de Recife continua comprando as sombrinhas originais.
O produto chinês chega ao consumidor por R$ 6 em média, nas mãos dos camelôs. Já a sombrinha brasileira não sai por menos de R$ 17. "Só a armação, que compramos das metalúrgicas, custa entre R$ 6 e R$ 7", diz Cabral. "Os chineses também acabaram com as metalúrgicas daqui", completa.
Fundada em 1872, com o nome de "A Sombrinha Moderna", a Leite Bastos foi a primeira empresa a fabricar sombrinhas de frevo. "No começo era uma sombrinha normal, só um pouco menor e fantasiada", diz Cabral. Mas, no ano em que o frevo faz cem anos, a empresa não tem muito a comemorar: os chineses é que estão fazendo a festa.
Senhor do Bonfim e do Sumaré
Grande parte dos 500 mil turistas esperados em Salvador neste carnaval também voltarão para casa com uma lembrança fabricada a quilômetros de distância da capital baiana. É em Sumaré, no interior paulista, que são produzidas 90% das fitinhas coloridas do Nosso Senhor do Bonfim, vendidas a R$ 0,50 principalmente nos arredores da igreja de mesmo nome na capital baiana – aquelas que, amarradas ao pulso com três nós, teriam o poder de realizar desejos.
Osnir Rolim, dono da fábrica de fitas do Senhor do Bonfim: 2 mil quilômetros de Salvador
"As fitinhas chegam ao turista uns 1000% mais caras do que saem da fábrica", admite Osnir Rolin, dono da Fita Têxtil. A cerca de 2 mil quilômetros de Salvador, a empresa produz 5 milhões de fitinhas coloridas todos os meses. Cerca de 90% da produção sai da fábrica com a inscrição "Lembrança do Senhor do Bonfim". Os outros 10% 'atendem' a outros santuários religiosos, como o de Bom Jesus da Lapa e o do Padre Cícero, empresas e governos. Parte da produção também é exportada para a França e Portugal. "Mas são lojas de brasileiros", afirma o empresário. O negócio começou em 2000, quando a fábrica em que trabalhava o paranaense Rolin fechou as portas. "Vi a oportunidade e comecei o negócio", diz ele. Hoje, 15 funcionários trabalham na empresa. Das máquinas, saem todos os meses cerca de 215 milhões de metros de fitas de dez cores diferentes. Há quase um século, as fitas eram feitas em algodão pelas devotas do Senhor do Bonfim. De lá para cá, já foram feitas de seda e acetato. Hoje, a matéria-prima é o poliéster. "Não existe mais acetato no mercado brasileiro", justifica o fabricante. "Se fosse importar, ficaria muito caro".
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