domingo, 29 de junho de 2008

A História de Eike Batista

Conheça Eike Batista

Eike Batista, 50, US$ 15 bi, mescla arrojo e reclusão
Sérgio Torres, Pedro Soares e Luisa Belchior na Folha de São Paulo

Com arrojo na vida empresarial, Eike Batista, 50, construiu um patrimônio avaliado hoje em US$ 15 bilhões (cerca de R$ 27 bilhões), mas é visto como conservador nas relações pessoais. Sobreviveu ao furacão Luma de Oliveira (um erro, na definição do pai, Eliezer Batista), mas chegou a pensar em abrir uma empresa de intermediação de encontros na busca de uma nova namorada.Eike afirma que a afeição ao risco é sua característica, diferindo-o dos seus pares no mundo dos negócios. "No Brasil, os empresários sempre pegaram as coisas meio prontas, sem risco. Esse não é o meu perfil." Nascido muito rico, tornou-se bilionário por conta própria, sem o dinheiro do pai. Supersticioso, suas empresas levam o "X" no nome, como símbolo da multiplicação de lucros.Eike (nome de origem alemã que se pronuncia "aique") surpreendeu o mundo dos negócios na semana passada ao investir R$ 1,6 bilhão em 28 áreas de exploração de petróleo e gás no leilão da ANP (Agência Nacional do Petróleo). Para os críticos, ele pagou caro. Eike afirma gostar de investimentos de risco, combinando, segundo ele, a experiência na engenharia com as finanças.O ímpeto que lhe é característico, diz, veio dos tempos de esportista: "No esporte, só há chance de ganhar uma vez. Tudo tem de estar sempre no estado da arte. Trouxe isso para o mundo dos negócios".O oceano sempre foi para Eike espaço de lazer e de competição. No biênio 1990/91, tornou-se campeão brasileiro, americano e mundial de motonáutica, na categoria offshore (espécie de F-1 dos mares, em que uma lancha pode atingir até 300 km/h). Parou de competir naquele ano a pedido da modelo Luma de Oliveira, com quem acabara de se casar.Com a separação, 13 anos depois, Eike voltou às lanchas velozes. Em 3 de janeiro de 2006, no comando da "Spirit of Brazil", bateu o recorde da travessia Rio-Santos -percorreu os 407 km em 3h01min47s.Construída nos EUA, a embarcação custou US$ 1,5 milhão. Com dois motores, de 3.000 cavalos cada um, consome 800 litros de gasolina por hora e costuma ficar ancorada em Angra dos Reis, cidade do litoral fluminense onde o empresário tem casa.No momento, sua obsessão marítima está relacionada aos negócios. Possivelmente ainda neste mês, Eike inaugura com festa o navio "Pink Fleet", pioneiro de um projeto que inclui mais duas embarcações de luxo destinadas ao turismo classe A a serem incorporadas à frota do empresário em até dois anos.Com investimento de US$ 19 milhões, 54 m de comprimento e capacidade para 450 pessoas, o "Pink Fleet" fará passeios turísticos diários pela baía de Guanabara e será alugado para eventos particulares. São quatro conveses e seis ambientes com restaurantes, bares, pistas de dança e sala de reuniões.Origem alemãO perfeccionismo e a meticulosidade, afirma, tiveram origem tanto no esporte como em sua ascendência alemã. A mãe nasceu em Hamburgo, e ele viveu dos 12 aos 23 na Alemanha, onde vendeu seguros na época da faculdade de engenharia.Aos 23 anos, de volta ao Brasil, estreou no mundo dos negócios, com uma trading de ouro. Ganhou US$ 6 milhões comprando e vendendo o metal. Reinvestiu tudo na aquisição de áreas de reservas de ouro. Foi a gênese do seu império."Gosto de "engenheirar" projetos especialmente de exploração de recursos naturais que começam do zero." Foi o que fez ao comprar direitos de exploração de lavras no Brasil, Canadá, Estados Unidos e Chile e prospectar negócios em mais uma dúzia de países -inclusive na Grécia, onde sofreu seu maior revés: perdeu US$ 300 milhões.Eike avalia suas empresas em US$ 15 bilhões -atuam em logística, mineração, eventos e restaurantes, entre outros. Ele prevê que a estreante OGX, criada para desenvolver reservas de óleo e gás, valerá, em dois anos, US$ 6 bilhões."Tem potencial para ser o principal negócio do grupo, ainda mais com o petróleo no preço em que está", diz o amigo Raphael de Almeida Magalhães, ex-ministro e conselheiro de empresas de Eike.Infra-estruturaAtualmente, sua principal atividade é a mineração de ferro. Em 2005, fundou a MMX para competir com a Vale e se tornar uma empresa de classe mundial. Comprou reservas em Minas Gerais e no Amapá e anunciou dois megaempreendimentos logísticos: um mineroduto e um porto em Campos.Causou polêmica e descrença no setor. Todos se perguntavam se ele teria capacidade financeira. Foi quando deu uma tacada decisiva: atraiu a gigante britânica Anglo American, que comprou 49% da MMX por US$ 1,15 bilhão.Filho do ex-presidente da Vale, na época estatal, Eliezer Batista, Eike, assim como o pai, tem gosto por projetos de infra-estrutura logística. Quer criar os dois maiores portos do país e, junto deles, atrair indústrias, com a oferta de energia gerada em termelétricas.Além do porto do Açu (projeto de US$ 5 bilhões), em Campos dos Goytacazes (RJ), investe num porto de calado profundo em Peruíbe (SP), orçado em R$ 3 bilhões. O problema é que a área fica no mesmo local onde a Funai pretende instalar uma reserva indígena.RelacionamentoToda agitação empresarial, porém, não tem eco em sua vida social. Adepto do feng shui, Eike é definido como avesso a baladas, apesar de ter sido casado por 13 anos com Luma, que por cinco anos foi a rainha da bateria da escola de samba Unidos da Viradouro e uma das principais figuras do Carnaval do Rio de Janeiro.A característica, diz o amigo e empresário Walter Guimarães, tornou-se um problema com a separação, em 2004. Ele nega que Eike seja mulherengo. "Logo que se separou da Luma, a mulherada ia em cima, mas ele não gostava disso. Falou-me até para abrirmos um site de relacionamento para ele conseguir conhecer pessoas [risos]."Não foi preciso. No mesmo ano, Guimarães apresentou a Eike uma amiga, a advogada Flávia Oliveira, 27, que voltava de uma temporada de estudos nos Estados Unidos. "Ela é totalmente avessa a badalação e foi por isso que deu certo."
Eike Batista é conservador e "low profile", afirma a atual namorada
O perfil de aventureiro e ousado no mundo dos negócios pouco se assemelha a um conservador e tímido Eike Batista na vida pessoal, disseram amigos íntimos, colegas, funcionários, ex-mulher e a atual namorada do empresário à Folha.Mineiro com título de cidadão carioca, Eike achou tempo entre um leilão e outro para investir em turismo no Rio.Além do Mr. Lam, um dos mais badalados restaurantes do Rio, na zona sul, vai inaugurar um navio turístico de passeios pela baía de Guanabara, no Rio, um "day hospital" na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio) e ainda quer levar para a capital fluminense a sede do Cirque du Soleil e construir um complexo com resort, casas, bares e lojas em Búzios.Coisas de quem tem "carisma, potencial e brilho próprio", nas palavras da advogada Flávia Oliveira, com quem Eike namora há três anos. "Ele tem um brilho próprio que é incrível, é uma pessoa contagiante. É agressivo nos negócios, mas em qualquer outra coisa é bem conservador e "low profile"."A tal agressividade, porém, já tirou o sono da ex Luma de Oliveira, com quem ele casou em 1991, quando ela estava grávida de cinco meses de Thor."Ele sempre viajou muito, e às vezes fico preocupada, falando para ele parar um pouco, descansar. Aí ele me fala que é porque está num momento bom, fechando negócios, mas isso eu ouço há 20 anos!", afirma Luma, 42.A ex-mulher diz que Eike reserva boa parte do tempo livre aos filhos Thor e Olin. "Os meninos vivem na casa dele, sempre que querem dormem lá."Depois da separação, Eike deixou a casa em que vivia com Luma para a ex-mulher e os filhos, mas comprou uma na mesma rua, no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro, onde mora também o pai de Eike, o mineiro Eliezer Batista, ex-presidente da Vale do Rio Doce. "É o herói dele, um ícone para o Eike", conta Luma. O mesmo orgulho, afirma Luma, têm os filhos de Eike pelo pai."Eike é bem tímido, sai pouco, não gosta de confusão e é muito voltado para os filhos", confirma o empresário Walter Guimarães, um dos poucos amigos íntimos no Rio e fora de seu círculo profissional."E é "low profile" total, não é um arroz-de-festa, não sai à toa", repete o empresário Alexandre Accioly.Quando vai ao próprio restaurante, Eike repete o mesmo gesto, afirma Yann Lesaffre, gerente do Mr. Lam. "Sempre paga a conta, mesmo se está com os filhos ou amigos."
Empresário tem problemas na área ambiental
O empresário Eike Batista coleciona problemas na área ambiental. No Amapá, a MMX, diz o Ministério Público Federal, instalou sua empresa sem apresentação do relatório ambiental. Os procuradores cobram indenização de US$ 37,5 milhões.De todos os problemas, porém, o maior enfrentado foi na Bolívia. Teve de deixar o país, pois instalou a 50 km da fronteira uma siderúrgica que usaria minério produzido por seu grupo em Corumbá, próximo da fronteira.Foi chamado de contrabandista por Evo Morales e saiu do país mesmo depois de já ter instalado alto-fornos e uma termelétrica. Perdeu US$ 30 milhões.A solução foi instalar a planta do outro lado da fronteira, em Corumbá. Mais problemas: a Justiça mandou parar a obra por causa de problemas ambientais.Eike diz agora que estuda voltar à Bolívia, dependendo do desfecho da questão política do país. "Acho que Morales percebe que precisa do capital. É mais fácil tratar com ele do que com Chávez."
Pai diz que união com Luma de Oliveira foi "erro"
Pai de sete filhos, o engenheiro Eliezer Batista, 83, disse que nunca favoreceu ou ajudou Eike nos negócios. Engenheiro de formação, fez história na Vale do Rio Doce -empresa que presidiu duas vezes (1961-64 e 1979-86). Foi ministro de Minas e Energia de João Goulart (1961-65) e secretário de Assuntos Estratégicos de Fernando Collor (1990-92). Eliezer opina sobre a vida pessoal do filho: o casamento com Luma de Oliveira foi "um erro".
FOLHA - Seu filho é tido como empresário arrojado. O sr. concorda? ELIEZER BATISTA - Louco nós todos somos, dependendo do grau. Mas o negócio dele é um risco calculado. É diferente do jogador. Tudo na vida tem risco, mas é preciso evitar pisar na casca de banana para reduzir o risco.
FOLHA - Qual foi a influência do sr. na vida do seu filho? BATISTA - A maior influência veio da mãe. Era luterana, com a disciplina e a dureza de uma alemã criada no pós-guerra. Ela tinha influência enorme sobre os filhos, sempre disse que eles tinham de aprender a viver sozinhos no mundo.
FOLHA - Ele pagou caro pelas áreas de petróleo no leilão? BATISTA - Ele tem o pessoal que mais entende disso -aposentados da Petrobras. Ele julgou pela avaliação desses profissionais. Ele sempre se cercou dos melhores profissionais.
FOLHA - Qual era a relação do sr. com a Luma de Oliveira? BATISTA - É claro que são personalidades completamente diferentes. Eu mesmo não consigo explicar. É difícil de entender. Mas ele errou e engoliu o erro. É claro que tinha o problema dos filhos. Então, tinha de ter paciência para terminar bem. E terminaram bem.

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