quinta-feira, 20 de outubro de 2016

A CIÊNCIA POR TRÁS DOS APPS VICIANTES


AS EMPRESAS MAIS BEM-SUCEDIDAS DO VALE DO SILÍCIO UTILIZAM O DESIGN BEHAVIORISTA PARA TURBINAR NOSSOS NÍVEIS DE DOPAMINA E CRIAR UMA SENSAÇÃO DE “QUERO MAIS”. NESTE ARTIGO, IAN LESLIE MOSTRA QUE OS PSICÓLOGOS ESPECIALIZADOS NA CIÊNCIA DA PERSUASÃO ESTÃO PREOCUPADOS COM O RUMO QUE ESSA HISTÓRIA VEM TOMANDO


Em 1930, um psicólogo da Universidade Harvard chamado B.F. Skinner construiu uma caixa e colocou um rato faminto dentro dela. No canto da caixa havia uma alavanca. Ao circular pelo espaço, o animal encostava por acidente nessa alavanca, e o mecanismo arremessava na caixa uma pílula de comida. Depois de passar pela caixa algumas vezes, o rato aprendia a ir direto para a alavanca: a recompensa recebida reforçava o comportamento. Skinner afirmava que o mesmo princípio poderia ser aplicado a qualquer “operante”, fosse ele homem ou rato. O psicólogo batizou a caixa de “câmara de condicionamento operante”, mas ela ficou conhecida como caixa de Skinner.


O cientista acabou se transformando no maior expoente de uma linha da psicologia chamada behaviorismo (do inglês “behaviour”: comportamento, conduta), O behaviorismo partia da seguinte premissa: o comportamento humano pode ser entendido como uma função entre incentivos e recompensas. Não se deixe distrair por questões nebulosas relacionadas a pensamentos e sentimentos impossíveis de observar, diziam os behavioristas. Pense apenas na maneira como o ambiente ao redor do “operante” determina as ações que ele realiza. Compreender a caixa equivale a compreender o comportamento. E criar a caixa certa equivale à capacidade de controlar o comportamento.


Skinner viria a ser o último “purista” do behaviorismo. A partir do final dos anos 50, uma nova geração de estudiosos comandou um retorno aos processos mentais internos da psicologia, tais como memória e emoção. O behaviorismo, porém, nunca desapareceu. Recentemente ele surgiu em novo formato, agora como uma disciplina desenvolvida por empresas e governos com o objetivo de influenciar as escolhas que fazemos todos os dias: o que compramos, com quem conversamos, como trabalhamos. Os novos praticantes do behaviorismo estão especialmente interessados na capacidade que as interfaces digitais – essa caixa onde passamos boa parte do tempo – demonstram para determinar as decisões humanas. Essa disciplina incipiente ganhou o nome de “design behaviorista”, e seu criador atende por B.J. Fogg.


No início deste ano fui a Palo Alto participar de um workshop sobre design behaviorista comandado por Fogg, em nome da instituição para a qual ele trabalha: a Universidade Stanford. Diante das salgadas tarifas de roaming entre Estados Unidos e Inglaterra, acabei passando muito tempo em cafés com wi-fi grátis. Li a frase “aceitar e conectar-se” tantas vezes que comecei a vê-la como o mantra da Califórnia. Aceitar e conectar-se, aceitar e conectar-se, aceitar e conectar-se.


Eu nunca tinha usado o serviço do Uber, e pensei: que lugar do mundo poderia ser melhor do que este para experimentar? Um dia, quando estava num Starbucks pela manhã, abri o aplicativo e solicitei um motorista para me levar até o campus de Stanford. Dois minutos depois o carro encostou na frente do café: um estudante de engenharia de Oakland iria me conduzir ao meu destino. Paguei sem precisar pagar. Parecia mágica. Bem... O workshop reunia uns 20 e poucos executivos de Estados Unidos, Brasil e Japão, encarregados de levar os segredos do design behaviorista de volta para suas empresas natais.


Fogg tem 53 anos. Ele viaja o mundo carregando consigo um sapo e um macaco de pelúcia, presentes na sala também naquele dia. Além disso, o professor faz “plin” num xilofone de brinquedo para marcar o fim de um intervalo ou de uma sessão de trabalho em grupo. Alto, enérgico, dono de uma simpatia incansável, ele costuma pontuar sua fala com expressões empolgadas, como “demais” e “sensacional”. Considerando que sou inglês, essa alegria desavergonhada me pareceu desconcertante a princípio. Depois de um tempo, no entanto, aprendi a gostar do jeito dele – assim como os europeus que se mudam para a Califórnia esquecem a antiga paixão por estações bem definidas e ficam viciados em calor. Além do mais, Fogg é gente boa. Com seu sorriso cheio de dentes e sua voz anasalada, ele tem um jeito de nerd fofinho.


Antes do workshop, conversamos por telefone e ele me contou que havia lido os clássicos durante seu mestrado na área de Humanas. Fogg não viu nada de mais em Platão, mas se identificou muito com a tentativa aristotélica de organizar e catalogar o mundo, de enxergar sistemas e padrões por trás da barafunda de diferentes fenômenos. Ele lembrou: ao ler Retórica, de Aristóteles – um tratado sobre a arte da persuasão –, “a ficha caiu: um dia isso aqui vai ser usado na tecnologia”.


Em 1997, no último ano de seu doutorado, Fogg fez uma palestra na cidade de Atlanta, durante um congresso que discutia como os computadores poderiam ser usados para influenciar o comportamento dos usuários. Ele percebeu que as “tecnologias interativas” tinham deixado de ser apenas ferramentas de trabalho e se transformado em parte integrante do cotidiano das pessoas: eram usadas na gestão das finanças domésticas, nos estudos e na saúde. Mesmo assim, os profissionais da tecnologia ainda pensavam mais nas máquinas que criavam do que nos seres humanos que usavam as máquinas. Fogg se perguntava: e se criássemos softwares educativos, que convencessem os alunos a passar mais tempo estudando? Ou um programa de gestão financeira que incentivasse os usuários a economizar? Ele concluiu que, para chegar às respostas a essas perguntas, seria necessário usar conceitos da psicologia.


Durante a palestra, apresentou os resultados de uma experiência simples que ele havia realizado em Stanford. O estudo mostrava que as pessoas dedicavam mais tempo a uma tarefa quando trabalhavam num computador que já tivesse sido útil a elas em outras ocasiões. Ou seja: a interação com a máquina seguia a mesma “regra de reciprocidade” identificada pelos psicólogos na vida social. Fogg argumentava que a experiência era importante menos por suas conclusões específicas do que por suas implicações: os aplicativos para computadores poderiam ser metodicamente projetados para explorar as regras da psicologia, levando as pessoas a fazer coisas que talvez não fizessem por outras vias. No relato sobre o estudo, Fogg escreveu: “A decisão sobre quando e onde esse tipo de persuasão é benéfico e ético deve ser tema de pesquisas e debates futuros”.


Ele sugeriu a criação de um novo campo, situado na encruzilhada entre a ciência da computação e a psicologia, e propôs um nome: “cativologia” (“captology”, em inglês: uma mistura entre o termo “captive”, que significa cativo, prisioneiro, e a abreviação da expressão “computers as persuasive technologies”, ou computadores como tecnologias de persuasão). Com o tempo, a cativologia se transformou no design behaviorista, que hoje está inserido no sistema operacional invisível da vida cotidiana. E-mails que induzem o leitor a comprar imediatamente, aplicativos e games que prendem a atenção, formulários online que nos empurram para uma decisão em detrimento de outra: tudo isso foi desenhado para hackear o cérebro humano e capitalizar nossos instintos, manias e defeitos. As técnicas utilizadas para fazer isso costumam ser toscas e descaradamente manipuladoras, mas estão se tornando cada vez mais refinadas – e, consequentemente, menos perceptíveis.


A palestra de Fogg em Atlanta provocou reações exaltadas do público, que se dividiu em dois grupos: de um lado, “isso é perigoso, equivale a criar as ferramentas necessárias para construir uma bomba atômica”; de outro, “isso é espetacular, pode valer bilhões”.


Fogg já foi chamado de “fazedor de milionários”. Incontáveis empreendedores e engenheiros do Vale do Silício passaram por seu laboratório em Stanford, e alguns deles ficaram bem ricos.


O próprio Fogg, porém, não faturou milhões com as próprias ideias. Ele continuou em Stanford, e atualmente realiza poucos trabalhos comerciais. Está cada vez mais incomodado com um pensamento: pelo jeito, aquelas mesmas pessoas que lhe haviam dito que suas ideias eram perigosas estavam tramando alguma coisa.


Durante o workshop Fogg explicou os elementos de sua teoria sobre mudanças comportamentais. Para que alguém faça alguma coisa – comprar um carro, ler um e-mail ou “pagar” 20 flexões –, é preciso que três coisas aconteçam ao mesmo tempo. A pessoa tem de querer, tem de poder e precisa ser impulsionada a fazê-lo. O gatilho, o impulso para agir, só é eficaz quando a pessoa está extremamente motivada – ou quando a tarefa é extremamente simples. Se a tarefa for difícil, as pessoas podem ficar frustradas; se as pessoas não estiverem motivadas, podem acabar ficando irritadas.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Uber lança nos EUA serviço de veículos sem motorista

Experimento sairá às ruas de Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia, e estará a disposição dos clientes habituais; lançamento coloca empresa no topo da indústria que desenvolve o segmento



A empresa de transporte Uber lança nesta quarta-feira (14) um serviço de aluguel de carros sem motorista, um passo que pode revolucionar o setor.
Em uma experiência ambiciosa, uma pequena frota de quatro veículos dotados com tecnologia laser, câmeras e outros tipos de sensores, mas sem motorista ao volante, sairá às ruas de Pittsburgh, no Estado da Pensilvânia, e estará a disposição dos clientes habituais do Uber nesta cidade convertida em um polo de desenvolvimento para as novas tecnologias na costa leste.
Em um ensaio para a imprensa na terça-feira, a AFP observou como os veículos circulam com facilidade na cidade com tráfego intenso.
Autonomia com apoio
Os veículos autônomos e seu suporte tecnológico foram testados por dois anos no complicado trânsito de Pittsburgh, e as demostrações prévias a seu lançamento revelaram que são tão capazes de enfrentar situações como qualquer motorista. Mas por medida de segurança, em um primeiro momento, os passageiros não estarão sozinhos a bordo: um técnico se sentará no banco do motorista sem tocar no volante. Um segundo técnico também estará presente para observar o comportamento do veículo.
A empresa não estipulou prazos, mas espera-se que em pouco tempo só seja necessário um técnico por trás do volante, para intervir em caso de necessidade e cumprir as normas estatais que requerem um motorista no veículo.
O objetivo, contudo, é chegar a zero intervenção e nenhum técnico a bordo, disseram os representantes do Uber.
No topo do setor
Este lançamento coloca o Uber no topo a indústria que desenvolve veículos sem motorista para o público em geral. Os principais fabricantes contam com programas de desenvolvimento de veículos autônomos, assim como os gigantes da tecnologia Google e Apple.
Muitos fabricantes já contam com carros nas ruas com tecnologia de assistência ao motorista muito avançada, fundamentalmente Tesla.
A própria Uber se viu superada pela nova empresa de Cingapura, nuTonomy, que no final de agosto colocou seis veículos autônomos nas ruas. Mas o experimento de Cingapura está até o momento limitado a uma pequena área na bem planificada ilha do sudeste asiático, enquanto a Uber testa seus veículos em toda Pittsburgh, uma das grandes cidades americanas, morros, estradas estreitas, pontes e rodovias.
O que permitiu a Uber posicionar-se à frente do setor não foi a engenharia automotora, mas sua capacidade de acumular e processar grandes quantidades de informação sobre as condições do tráfego das milhares de ruas recorridas por seus motoristas.
"Temos um dos grupos de engenharia automotora mais fortes do mundo, assim como a experiência de dirigir uma rede de viagens compartilhadas e de entregas em centenas de cidades", disse o fundador e diretor-executivo do Uber, Travis Kalanick, em um blog nesta quarta-feira.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

A NOVA FRONTEIRA DO MOGNO

A MADEIRA, UMA DAS MAIS VALORIZADAS DO MUNDO, VOLTOU A SER EXPLORADA NO BRASIL APÓS MAIS DE UMA DÉCADA DE PROIBIÇÃO. E ISSO PODE SER MUITO BOM PARA A AMAZÔNIA

Um grupo de homens embrenha-se em uma área remota da Floresta Amazônica, a nordeste do Acre. Eles estão em busca de mogno – uma das madeiras mais valorizadas no mundo e sob risco de extinção. Uma vez localizadas, as árvores são derrubadas, cortadas em toras e carregadas em caminhões. Por uma estrada sinuosa, seguem até o pátio da serraria – uma clareira de 48 quilômetros quadrados nas imediações do município de Manoel Urbano, a duas horas de Rio Branco. Ali, o produto é tratado, transformado em tábuas e, logo, despachado para um cliente.


Essa poderia ser a descrição de um dos crimes mais corriqueiros na Amazônia: a exploração e o comércio ilegal de madeira tropical. Desta vez, porém, é diferente. A operação narrada é da madeireira Agrocortex, que tem atividade legal e acaba de receber autorização para manejar mogno no Brasil. No final de fevereiro, despachou seu primeiro carregamento, para uma fábrica de instrumentos musicais nos Estados Unidos. O segundo, partiu no final de abril. Legalmente, essas foram as primeiras vezes que isso aconteceu em 14 anos no país, desde que o corte e a venda do mogno foram suspensos no Brasil.

De coloração castanho-avermelhada, alta durabilidade e fácil manuseio para diferentes tipos de indústria, o mogno brasileiro (Swietenia macrophylla) sempre foi cobiçado mundo afora. O metro cúbico da espécie alcança até US$ 3 mil (R$ 10,8 mil) no mercado internacional. É três vezes mais que o preço de outras madeiras nativas igualmente resistentes, como cumaru e sucupira, e 60 vezes o valor do metro cúbico de espécies como pinus e eucalipto, comuns em florestas plantadas. “O mogno é um tesouro no meio da mata”, diz Rui Ribeiro, presidente da Agrocortex. Isso justifica o empenho da empresa em montar sua estrutura no meio da floresta e obter todas as autorizações de manuseio. “Foi um trabalho monstruoso”, afirma Ribeiro.Desde o início das operações da Agrocortex, em 2011, até que o primeiro carregamento de mogno partisse do pátio da empresa, foram mais de cinco anos de trabalho. Não bastou superar todos os trâmites para convencer órgãos ambientais (Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a aprovar o plano de manejo apresentado para a área – um cinturão com 190 mil hectares, maior do que a cidade de São Paulo. Foi preciso realizar um amplo trabalho junto a comunidades e instituições de defesa do meio ambiente para comprovar que a exploração do mogno não afetaria a biodiversidade local e poderia, além disso, trazer recursos para a região. Toda a madeira da Agrocortex é proveniente de uma área certificada pela Forest Stewardship Council, a FSC, uma organização internacional cujo selo atesta que o manejo, além de seguir o rigor da lei, gera ganhos para as comunidades do entorno. “Foi um cuidado adicional”, diz Ribeiro. “Mas isso é importante para garantir a entrada dos produtos em países estrangeiros, que hoje compram quase a totalidade da nossa produção.”

Um rinoceronte-branco

A Agrocortex explora no total 45 espécies de madeira tropical. Ao conseguir autorização para o mogno – cujas regras para comercialização internacional são tão rígidas como as aplicadas ao chifre do rinoceronte-branco –, a empresa transformou-se no caso mais emblemático de um movimento que há anos tenta emplacar no Brasil: o manejo legal de madeira. Trata-se de um mercado ainda cheio de arestas, mas que para alguns especialistas é apontado como a única maneira de salvar a floresta de algumas de suas pragas mais devastadoras – a miséria na qual vive sua população e o madeireiro ilegal. “Como se sabe, explorar economicamente a mata, de um jeito correto, é a melhor forma de manter a Amazônia em pé”, diz Aline Tristão, presidente da FSC no Brasil. “Se você não diz ao setor produtivo que tem uma saída, uma forma de aproveitar os recursos da região de maneira sustentável, acaba entregando a floresta para a ilegalidade, sem ganhos para a população.”

Fazer manejo de madeira tropical não é tarefa simples – alcançar as certificações, tampouco. Estima-se que as ações necessárias para levar ao mercado uma madeira legal, certificada, elevem os custos do produto em pelo menos 30%. Ainda assim, pode ser um ótimo negócio. Se as variáveis estiverem a favor, como o dólar apreciado em relação ao real e o ambiente regulatório correndo bem, a atividade gera retorno de até 20%. “Os resultados demoram a chegar”, diz Ribeiro, da Agrocortex. “Por outro lado, uma vez que isso acontece, você tem sucesso quase garantido por muito tempo.”

Mundialmente, o setor florestal movimenta US$ 600 bilhões ao ano, ou 0,9% do PIB global, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). No Brasil, os negócios que possuem relação direta com os produtos madeireiros tiveram receitas de R$ 60,6 bilhões em 2014, ou 5,5% do PIB industrial do país, e representaram 4% das exportações, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). É fato que esses dados são impactados pela cadeia da celulose, muito forte no Brasil. Isoladamente, o mercado de madeira tropical ainda é pequeno, mas promissor.

Preços crescentes
O preço desse tipo de madeira no mundo não para de crescer. Desde 2003, o aumento médio do metro cúbico foi de 80%. É um exemplo clássico de oferta e procura. Há uma limitação natural da matéria-prima, que só existe em abundância na região amazônica, no Congo (África) e nas florestas do Sudeste Asiático, como na Indonésia e no Bornéu. E há demanda forte e constante. A madeira tropical, de fácil maleabilidade, resistente a umidade, fungos e cupins, serve para tudo. Atende a indústria pesada da construção civil, em projetos para diques na Holanda e pontes na Inglaterra, e a fabricantes de móveis de alto padrão e instrumentos musicais. O mogno, particularmente, está em boa parte da mobília da Casa Branca, em Washington, e em guitarras clássicas que marcaram a história do rock – como a Gibson SG, usada por Eric Clapton.

Para iniciar a exploração na Amazônia, a Agrocortex investiu R$ 150 milhões, montando o maior complexo industrial madeireiro do Brasil. São dez serrarias, 20 estufas e 4 mil metros quadrados de galpão, além do pátio de armazenagem. O investimento ainda não se pagou, mas Ribeiro está otimista quanto aos resultados. “Nós temos uma floresta grande e muito boa”, diz. “A rentabilidade será maior quanto mais longo for nosso processo.”

A ideia, crucial a qualquer Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFs), é explorar a floresta de maneira que ela consiga se recompor continuamente. Simplificando, um plano de manejo consiste em dividir a área sob responsabilidade da empresa em 20 ou 30 lotes, dependendo das espécies do local. São as chamadas UPAs, ou Unidades de Processamento Anual. A cada ano, a empresa atua em um desses lotes, que depois é fechado e só volta a ser explorado 20 ou 30 anos depois – o tempo necessário para que novas árvores estejam prontas para ser retiradas sem grandes impactos para o ambiente.


SOMENTE AS ÁRVORES MUITO VELHAS PODEM SER CORTADAS. PARA CADA UMA QUE VAI AO CHÃO, OUTRAS CINCO SÃO MANTIDAS NO MESMO HECTARE

É um trabalho que demanda precisão. Para ter seu plano de manejo aprovado, a Agrocortex teve de mapear toda a fauna e flora da região, em uma espécie de inventário. Técnicos de diferentes especialidades foram enviados floresta adentro com a missão de medir os troncos de árvores, etiquetá-las e detalhar a quantidade de cada espécie por hectare. Com esses dados, a Agrocortex apontou exatamente quais árvores seriam retiradas em cada ocasião. Tudo foi transformado em um documento 3D para apreciação dos órgãos competentes.

Esse preciosismo é necessário. Em um plano de manejo, só podem ser retiradas as árvores mais velhas, com maior probabilidade de morrer em 30 anos. A estimativa da morte é feita com base, por exemplo, na espessura do tronco. No caso do mogno, é preciso que ele tenha um mínimo de 60 centímetros. Mas nem todas as árvores com essas características podem ser postas abaixo. Para cada corte, é preciso manter outras cinco com a mesma espessura de tronco naquele hectare. Por fim, é feito o plantio de novas mudas de enriquecimento nas clareiras abertas.

Formada com capital português e espanhol proveniente de family offices – as casas especializadas em gestão de fortunas familiares –, a Agrocortex tem entre seus investidores famílias com negócios centenários. “Uma delas tem dinheiro em mais de 100 empresas pelo mundo, com permanência média de 70 anos em cada uma”, diz Ribeiro. Para esse tipo de atividade, precisa mesmo ser assim. Apesar da alta rentabilidade, o manejo florestal é um negócio de longo prazo.

A máfia da mata

Nos últimos anos, o Brasil tentou criar mecanismos para tentar impulsionar esse mercado. Embora previstos desde 1965, os planos de manejo só foram regulamentados décadas depois, em 1991. Desde então, as regras vêm sendo aprimoradas. Em 2006, como forma de atrair mais investimentos, foi criada a Lei de Concessões de Florestas Públicas, que dá ao setor privado o direito de explorar produtos e serviços em áreas predefinidas, mediante o cumprimento de uma série de regras e do pagamento de uma percentual sobre o lucro do que for explorado. O país, no entanto, ainda está muito longe de resolver um dos principais imbróglios desse tipo de negócio – a concorrência com o mercado ilegal. “Isso é algo muito complexo”, diz Paulo Fontes, diretor de biodiversidade e florestas do Ibama. “Não estamos falando de um ou outro sujeito, mas de algo organizado, praticamente uma máfia.”

Há diversos tipos de ilegalidades. Algumas serrarias operam totalmente fora da lei, não têm documentação, não seguem regras trabalhistas, não pagam impostos e são abastecidas por madeiras de áreas que não poderiam ser exploradas. Outras existem formalmente, trabalham em parceria com empresas de grande porte, mas misturam matéria-prima legal com ilegal, dificultando o acompanhamento. “São lavanderias de madeira no meio da floresta”, diz Rômulo Batista, do Greenpeace. “Isso é péssimo para a região e também para as empresas que tentam agir dentro das regras, fazendo um trabalho sério.”

Em 2014, o Greenpeace realizou uma detalhada investigação sobre esse mercado. Com o auxílio de dezenas de ativistas, instalou rastreadores em caminhões utilizados no transporte de madeira no Pará, monitorou suas rotas e, por fim, cruzou as informações com dados públicos sobre áreas de manejo e as licenças das empresas que recebiam a madeira. Com o esforço, identificou serrarias que utilizavam madeira de área ilegal e 11 maneiras utilizadas para burlar o sistema de manejo – o que incluía falsificação de documentos e suborno de funcionários de órgãos públicos. As empresas envolvidas no esquema foram autuadas, seus cadastros, suspensos, e a madeira em estoque, apreendida. “Infelizmente, não foi o fim desse tipo de atividade”, diz Batista.

Hoje, não existe nem mesmo uma lista consolidada do total de áreas de manejo no Brasil. Acontece porque parte desse controle está sob responsabilidade federal e parte com os estados, que mantêm sistemas diferentes de cadastramento. O arcabouço legal que rege todas as áreas de manejo é único e tem como base o Código Florestal de 2012. Mas há dentro disso um emaranhado de dispositivos, portarias e instruções normativas que tornam o monitoramento quase impraticável. O Ibama trabalha agora em um novo sistema, para ao menos consolidar as informações de estados e União, o Sistema Nacional de Controle da Origem de Produtos Florestais (Sinaflor). Um piloto está funcionando em Roraima e no Maranhão e deve estender-se para todos os estados da Amazônia legal até o fim deste ano. É um passo. Mas pequeno.

O pacto da legalidade
Um dos pleitos das empresas que trabalham com manejo é tornar obrigatória a certificação da madeira consumida no país – assim como acontece nos Estados Unidos desde 2008, e em todos os países da União Europeia desde 2013. Uma das companhias que encabeçam esse movimento é a AMata, pioneira no manejo florestal no país em matas públicas, sob o regime de concessão. Formada por capital nacional, com recursos do BNDES, a AMata gere uma área de 45 mil hectares da floresta Jamari, em Rondônia, com direito a explorar mais de 28 espécies nativas, incluindo madeiras nobres como ipê, cumaru, roxinho e tachi-preto. Hoje, 98% dos clientes são estrangeiros. “Nossa meta é aproveitar a floresta para também abastecer o mercado local”, diz Dario Guarita Neto, presidente da empresa. “O problema é que o consumidor aqui não dá muita bola para a origem da madeira que utiliza.”

“AINDA HÁ UMA MÁFIA OPERANDO MADEIRA ILEGAL NA AMAZÔNIA. É UM NEGÓCIO ORGANIZADO, DIFÍCIL DE COMBATER”

Guarita Neto faz coro com um grupo de ambientalistas envolvidos na preservação da Amazônia. Eles defendem que o setor privado brasileiro – com destaque para as construtoras – passe a exigir de seus fornecedores garantias sobre a procedência da madeira que utilizam. O objetivo é firmar um acordo com a participação de bancos, financiadoras de crédito para a habitação, o governo, a iniciativa privada e a sociedade civil, para estabelecer a exigência de certificação gradativa de um percentual da matéria-prima consumida nas obras – até chegar à totalidade do que é utilizado em alguns anos. “Fazendo esse trabalho, vamos elevar o manejo sustentável a outro patamar e atrair novos investidores”, diz Guarita Neto. Atualmente, mais de 80% da madeira proveniente das florestas plantadas no Brasil tem certificação, mas apenas 1% das nativas contam com o selo. 

Apesar de um pequeno retrocesso em 2015 e 2014, em dez anos o desmatamento da Amazônia recuou 79%, segundo dados de monitoramento do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (veja quadro à pág. 76). Contribuíram para esses resultados a moratória da soja, em vigor desde 2006, e a moratória do gado, de 2009, dois acordos firmados entre os setores produtivos, entidades de classe e órgãos ambientais para vetar a comercialização de produtos vindos de novas áreas de desmatamento. “Também houve aumento da vigilância e fiscalização”, diz Batista, do Greenpeace. Ainda é pouco, contudo, para um país que firmou um compromisso internacional de zerar o desmatamento da Amazônia até 2020.

Impacto local

O plano de manejo da Agrocortex é feito em área particular. Não há pagamento, em forma de royalties, para o governo pela exploração da madeira – o que acontece em áreas de concessão. Ainda assim, houve melhorias na comunidade desde o início dos trabalhos. Hoje, a empresa emprega 350 funcionários, um total que avança para 500 no período de safra – é mais de 5% dos 8 mil habitantes de Manoel Urbano. Todos recebem treinamento ministrado em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai) ou com o Instituto Floresta Tropical. Isso para que possam desempenhar as diferentes funções – há operadores de motosserras, condutores de caminhões e máquinas, além de operários nas fábricas. Novos empregos devem ser criados em breve, com o início da construção de uma usina com capacidade de geração de 5 megawatts de energia a partir de cavaco, as sobras da madeira – será o suficiente para abastecer toda a cidade de Manoel Urbano, incluindo as operações da Agrocortex. 

A indústria também gera renda na região. Um dos critérios da FSC para certificação é priorizar o comércio local para a compra de serviços e materiais. Isso inclui, por exemplo, uma oficina de costureiras que faz a manutenção e a reciclagem dos uniformes dos operários.

Esse conjunto de oportunidades não deve resolver todos os problemas do município – um dos mais pobres do Brasil. Seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) o coloca na posição 5.186º entre as 5.565 cidades do país. Será preciso esperar para saber com exatidão em que medida a Agrocortex é capaz de melhorar os indicadores da cidade. Em um ambiente tão conturbado como o da exploração florestal no Brasil, marcado por um histórico de grilagem, assassinatos e miséria, uma operação com respaldo legal não deixa de ser um alento.

Retirado de :Época negócios junho de 2016

quarta-feira, 18 de maio de 2016

SOLICITAÇÃO DE RESERVA DE PASSAGEM, HOTEL E CARRO

São Paulo...



LOTHAR & VANDA
AGÊNCIA DE VIAGENS E TURISMO

Prezados Senhores:


Peço o obséquio de reservar em meu nome duas passagens para o vôo São Paulo-Paris, pela Varig, para o próximo dia 26 de agosto, bem como reserva em hotel cinco estrelas perto da Torre Eiffel e um carro sem motorista.

Gostaria que o carro já estivesse no hotel quando de nossa chegada.

Aguardo breves notícias.



Flavio Pereira.

SOLICITAÇÃO DE OBJETO ESQUECIDO NO HOTEL

São Paulo...




GRANDE HOTEL MERLIN
At. Sra. Vânia Merlin
Guarujá

Saudações:


No último dia 25, ocupamos em seu hotel o apartamento nº 26, no 2º andar, e esquecemos no armário uma pasta preta, com documentos do trabalho de meu marido.

Agradecemos se V. Sas puderem enviá-la pelo correio, com frete a pagar no destino.

Solicitando escusas pelo ocorrido, agradecemos a atenção.

Cordialmente,

ANA GONZALEZ LOPEZ,
Rua Lhanito, no 25,

CEP 00352-500 - SÃO PAULO - SP.

SOLICITAÇÃO DE LISTAS DE PREÇO

São Paulo...




Dr. FRANCISCO BARBOSA

Prezado Senhor:


Pedimos a gentileza de enviar-nos as últimas listas de preços e informar-nos as condições de venda dos produtos de sua conceituada empresa.

Agradecemos a atenção.



Cordiais saudações.

SOLICITAÇÃO DE INFORMAÇÕES SOBRE UM GERENTE FINANCEIRO

 São Paulo...




Prezados Senhores:


Solicitamos nos desculpem por incomodá-los, porém, necessitamos de informações sobre o senhor Roberto Quiles, que diz ter sido seu funcionário, ocupando o cargo de gerente financeiro, durante sete anos.

Como é uma função de muita responsabilidade, necessitamos de uma pessoa à altura.

Aguardamos suas notícias, agradecendo antecipadamente.

Cordiais saudações.